terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Obras Clandestinas para irrigar lavouras de arroz estão secando o Arroio Chuí

Segue abaixo, matéria publicada na Revista Veja nº 1626 de 1° de dezembro de 1999.

Por Rodrigo Vieira da Cunha, do Chuí



Desde 1851, quando foi feito o acordo que delimitou as fronteiras com o Uruguai, os brasileiros aprendem na escola que o ponto mais meridional do país é o Arroio Chuí, mais precisamente a barra (ou foz) do riozinho gaúcho. A lição de geografia, no entanto, poderá mudar, caso não se tome uma providência que impeça o Chuí de secar. É normal que a vazão do arroio diminua nesta época do ano – a profundidade, de 2 metros durante o inverno, cai para meio metro. O que tem causado preocupação é que, em alguns trechos, ele está quase sem água. "Eu me criei na beira do arroio e nunca o vi tão baixo como agora", diz Douglas "Cafuné" Mendes, 65 anos, funcionário da Secretaria do Meio Ambiente da prefeitura do Chuí.





Um dos motivos para o fenômeno é a falta de chuvas na área fronteiriça ao Uruguai. O índice pluviométrico deste ano, desde julho até a última semana de novembro, é cerca de 35% menor do que a média. Outra causa para o arroio mostrar-se tão raquítico são as obras irregulares de fazendeiros que desviam água para irrigar lavouras de arroz. Ao longo dos seus 60 quilômetros de extensão há inúmeras bombas hidráulicas e canos. Em alguns lugares, existem até mesmo sinais da construção de uma pequena barragem, idéia que parece ter sido abandonada pelo energúmeno que a projetou. Um dos fazendeiros, Alcir Nunes da Silva, foi mais longe. Não contente com os canos utilizados para irrigar 400 dos 2 000 hectares de seu arrozal, ele investiu 200.000 reais para construir um canal de 400 metros e, assim, desviar as águas do Chuí para sua lavoura. Tudo sem licença. Foi denunciado por habitantes da região e multado em 4 500 reais pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental, Fepam. A obra foi embargada. "Estou sendo perseguido", diz Silva, sem enrubescer. Além da irrigação irregular, a areia do fundo do arroio está sendo retirada clandestinamente por carroceiros e vendida como material de construção. Isso deforma o seu leito, prejudicando o fluxo da água. "Se o Chuí continuar a sofrer esse tipo de ação, secará totalmente em alguns anos", reitera a bióloga Luiza Chomenko, da Fepam. O aviso está dado.

cabe a nós,pensar qual o modelo de desenvolvimento que queremos para nossa cidade e região!

10 anos após a publicação desta matéria, será que podemos dizer que este problema foi superado!

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